Estruturas anexas do Sistema Digestório

As estruturas anexas do sistema digestório são órgãos que produzem ou armazenam secreções que passam para o trato gastrintestinal e auxiliam na decomposição química do alimento, esses órgãos não entram em contato com o alimento. São eles: as Glândulas Salivares, o Fígado, Vesícula Biliar e o Pâncreas.

Glândulas salivares

São glândulas exócrinas que produzem saliva (função digestiva, lubrificante e protetora). Existem três pares de glândulas salivares maiores: parótida, submandibular e sublingual. Glândulas salivares menores produzem 10% do volume total de saliva, mas 70% do muco secretado. Glândulas salivares maiores apresentam uma cápsula de tecido conjuntivo rico em fibras colágenas que circunda e as reveste. O parênquima consiste em terminações secretoras e em um sistema de ductos ramificados que se arranjam em lóbulos, separados por septos de tecido conjuntivo. As terminações secretoras possuem dois tipos de células secretoras serosas ou mucosas, e células mioepiteliais não secretoras.

Células serosas: formato piramidal, cuja base repousa sobre a lâmina basal e um ápice com microvilos voltados para o lúmen. Células secretoras adjacentes estão unidas entre si por complexos juncionais e formam um ácino.

Células mucosas: possuem epitélio cuboide ou colunar, seu núcleo é oval e está pressionado junto a base da célula. Tem característica de célula secretora de muco, com glicoproteínas (mucina) importantes para as funções lubrificantes da saliva. Se organizam formando os túbulos, que circundam o lúmen. No homem, as submandibulares e as sublinguais, células mucosas e serosas estão arranjadas num padrão característico. As mucosas formam uns tubos, mas no final deles existe um grupo de células serosas, as semiluas serosas.

Células mioepiteliais: são encontradas junto à lâmina basal de terminações secretoras e na porção inicial do sistema de ductos. Elas apresentam características semelhantes às células musculares, incluindo a contratilidade. Estabelecem junções entre si e também com as células secretoras. A sua principal função é evitar a distensão excessiva da terminação secretora durante a secreção, mas elas também ajudam na própria secreção.

As terminações secretoras formam os ductos intercalares, com epitélio cuboide, que se unem formando o ducto estriado, esses dois ductos também são chamados de ductos intralobulares, devido à sua localização dentro dos lóbulos glandulares. Os ductos estriados convergem para o ducto interlobular localizado no septo de tecido conjuntivo, esses são formados por epitélio colunar estratificado inicialmente, mas a porção terminal é de epitélio colunar estratificado. O ducto principal de cada glândula desemboca na cavidade oral sendo revestido por epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado. Os vasos e nervos penetram pelo hilo e se ramificam até os lóbulos.

Organização  de uma  glândula  salivar

Glândula parótida

É uma glândula acinosa composta, sendo que sua porção secretora é composta por células serosas, contendo grânulos de secreção ricos em proteínas e elevada atividade amilase, que inicia a digestão dos carboidratos na boca. Apesar de ser a maior glândula salivar, é responsável pela secreção de 30% do volume total de saliva. O seu tecido conjuntivo possui muitos plasmócitos e linfócitos, esses plasmócitos liberam suas IgAs junto da saliva, configurando uma defesa imunológica da cavidade oral.

Glândula Submandibular

A glândula submandibular é túbulo-acinosa composta, com a porção secretora constituída de células mucosas e serosas. Entretanto, as células serosas predominam, sendo responsáveis por uma fraca atividade da amilase presente nesta glândula. Já as células que formam as semiluas secretam a enzima lisozima (hidrolisa a parede celular de bactérias). É responsável pela secreção de 60% da saliva.

Glândula Sublingual

Também é túbulo-acinosa composta formada por células serosas e mucosas, mas são as mucosas que predominam, e as serosas constituem as semiluas serosas na extremidade de túbulos mucosos. As células que formam a semilua secretam lisozima.

Glândulas Salivares Menores

Não são encapsuladas e estão distribuídas em toda mucosa oral e submucosa. A saliva é produzida por pequenas unidades secretoras e conduzidas à cavidade oral em pequenos ductos. Geralmente produzem muco. Pode-se encontrar agregados de linfócitos associados à secreção de IgA.

Glândulas salivares maiores

Pâncreas

O pâncreas é uma glândula mista, que produz enzimas digestivas e hormônios. As enzimas são produtos da parte exócrina arranjada em ácinos. Os hormônios são produtos da parte endócrina, de células epiteliais conhecidas como ilhotas pancreáticas ou de Langerhans. A porção exócrina é uma glândula acinosa composta, constituída por ácidos serosos, similar a glândula salivar parótida em estrutura. Em cortes histológicos, a distinção entre estas duas glândulas pode ser feita com base na ausência dos ductos estriados, na presença das células centroacinares, que constituem a porção inicial dos ductos intercalares no pâncreas e na presença das ilhotas de Langerhans (pâncreas endócrino). Essa células centroacinares apresentam núcleos circundados por um citoplasma claro  e são responsáveis pela secreção de bicarbonato, com a função de neutralizar a acidez do quimo.

Uma cápsula de tecido conjuntivo reveste o pâncreas, enviando septos para o seu interior e dividindo-o em lóbulos.

O pâncreas possui uma rede capilar extensa, essencial para o processo de secreção. Ele secreta: água, íons e diversas proteinases. A maioria das enzimas é armazenada na forma inativa (pré-enzimas), sendo ativadas no lúmen do intestino delgado após a secreção.

Células enteroendócrinas da mucosa intestinal produzem os hormônios secretina e colecistoquinina, os quais controlam a secreção pancreática exócrina.

O nervo vago aumenta a secreção pancreática. A presença de ácido no lúmen intestinal estimula a secreção de secretina (promove uma secreção fluida, pobre em enzimas e rica em bicarbonato). Essa secreção, produzida pelas células dos ductos intercalares, serve para neutralizar a acidez do quimo, para que as enzimas pancreáticas possam atuar em Ph neutro. A presença de ácidos graxos de cadeia longa, ácido gástrico e alguns aminoácidos no lúmen intestinal estimulam a liberação de colecistoquinina, a qual promove uma secreção abundante e rica em enzimas e atua na extrusão dos grânulos de zimogênio. A ação integrada da secretina e colecistoquinina provê uma secreção abundante de suco pancreático alcalino, rico em enzimas.

Fígado

O fígado é o segundo maior órgão do corpo e a maior glândula. Situado abaixo do diafragma.

Local onde os nutrientes absorvidos no trato digestivo são processados e armazenados para a utilização por outros órgãos. O sangue (maior parte) que vai para o fígado chega pela veia porta e uma menor porcentagem é suprida pela artéria hepática. Os nutrientes absorvidos pelo intestino chegam ao fígado pela veia porta e os lipídios complexos (quilomícrons), pela artéria hepática. Ele capta, transforma e acumula metabólitos para a neutralização e eliminação de substâncias tóxicas. Essa eliminação ocorre na Bile, uma secreção exócrina do fígado, importante para a digestão de lipídeos. O fígado também exerce uma função importante na produção de proteínas plasmáticas, como a albumina e outras proteínas carreadoras.

O fígado é revestido por uma cápsula delgada de tecido conjuntivo, a cápsula de Glisson, que se espessa no Hilo, por onde a veia porta e a artéria hepática penetram e por onde saem os ductos hepáticos direito e esquerdo e os linfáticos. Estes últimos também são circundados por tecido conjuntivo em toda sua extensão até os espaços porta entre os lóbulos hepáticos. Aí, forma-se uma rede de fibras reticulares que suporta os hepatócitos e células endoteliais dos capilares sinusóides.

O Lóbulo Hepático

O hepatócitos é o componente estrutural básico do fígado. Essas células epiteliais estão agrupadas em placas interconectadas.

Lóbulo Hepático: Massa poligonal de tecido. Estão em contato uns com os outros durante ao longo de grande parte de seu comprimento.

Espaços porta: Local presente no canto dos lóbulos, pois em algumas regiões da periferia deles, existe tecido conjuntivo contendo ductos biliares, vasos linfáticos, nervos e vasos sanguíneos. Essa região é denominada espaços porta. O fígado contém 3 a 6 espaços porta por lóbulo, cada um contendo um ramo da veia porta, uma ramo da artéria hepática, um ducto biliar e vasos linfáticos.

Artéria hepática: contém sangue proveniente do tronco celíaco da aorta abdominal.

O ducto biliar: transporta bile sintetizada pelos hepatócitos, a qual desemboca no ducto hepático.

Vasos linfáticos: Transportam linfa, que entra na circulação sanguínea. Todas essas estruturas estão envolvidas numa bainha de tecido conjuntivo.

Os hepatócitos estão radialmente dispostos no lóbulo hepático, como tijolos. Essas placas celulares se direcionam da periferia do lóbulo para o seu centro e se anastomosam formando um labirinto como uma esponja. Os espaços entre essas placas celulares contêm capilares, os sinusóides hepáticos. São vasos irregularmente dilatados compostos de uma camada descontínua de células endoteliais fenestradas. As células endoteliais estão separadas dos hepatócitos adjacentes por uma lâmina basal descontínua e um espaço endotelial conhecido como espaço de Disse, que contém microvilos dos hepatócitos. O sinusóide é circundado e sustentado por uma bainha de fibras reticulares.

Estrutura do tecido hepático e as divisões em lóbulos

Células de Kupffer: Macrófagos presentes nos sinusóides. Essas células estão na superfície luminal das células endoteliais e suas funções são: metabolizar eritrócitos velhos, digerir hemoglobina, secretar proteínas relacionadas com processos imunológicos e destruir bactérias que penetrem no sangue portal a partir do intestino grosso.

Células de Ito: Células armazenadoras de lipídios, encontradas no espaço de Disse. Contém inclusões lipídicas ricas em vitamina A. Tem a função de captar, armazenar e liberar retinóides, sintetizar e secretar várias proteínas da matriz extracelular e proteoglicanos, secreção de fatores de crescimento e citocinas e regular o diâmetro do lúmen sinusoidal em resposta a diferentes fatores reguladores.

Suprimento sanguíneo

O fígado recebe sangue de duas fontes diferentes: 80% derivam da veia porta, que transporta o sangue pouco oxigenado e rico em nutrientes provenientes das vísceras abdominais, e o restante deriva da artéria hepática, que fornece sangue rico em oxigênio.

A veia porta se ramifica e envia pequenas vênulas portais (interlobulares) aos espaços porta. As vênulas portais ramificam-se em vênulas distribuidoras, que correm ao redor da periferia do lóbulo. Das vênulas distribuidoras, pequenas vênulas desembocam nos capilares sinusóides.

Os sinusóides correm radialmente, convergindo para o centro do lóbulo para formar a veia central ou veia centrolobular. À medida que a veia central progride ao longo do lóbulo, ela recebe mais sinusóides, aumentando de tamanho. Ao final, ela deixa o lóbulo em sua base fundido-se com a veia sublobular. As veias sublobulares gradualmente convergem e se fundem, formando duas ou mais veias hepáticas que desembocam na veia cava inferior. O sistema porta contém sangue proveniente do pâncreas, baço e intestino.

A artéria hepática ramifica-se repetidamente e forma as arteríolas interlobulares, localizadas nos espaços porta. Algumas dessas arteríolas irrigam o espaço porta, outras desembocam diretamente nos sinusóides, promovendo uma mistura de sangue arterial e venoso portal nesses capilares. A principal função do sistema arterial é suprir os hepatócitos com uma quantidade adequada de oxigênio. O sangue flui da periferia para o centro do lóbulo hepático. 

O hepatócito

São células poliédricas. A superfície de cada hepatócito está em contato com a parede do capilar sinusóide, através do espaço de Disse, e com a superfície de outros hepatócitos. Sempre que dois hepatócitos se encontram, eles delimitam um espaço tubular entre si conhecido como canalículo biliar. Eles constituem a primeira porção do sistema de ductos biliares e são espaços tubulares que possuem poucos microvilos em seu interior. As membranas celulares próximas desse canalículo estão unidas por junções de oclusão. Junções comunicantes do tipo gap são frequentes entre os hepatócitos e são importantes na comunicação intercelular, participando do processo de coordenação das atividades fisiológicas dessas células. Os canalículos biliares formam uma rede que se anastomosa progressivamente ao longo das placas do lóbulo hepático, terminando na região do espaço porta. Assim a bile flui na direção contrária ao sangue, do centro do lóbulo para a periferia. Na periferia, a bile adentra os ductos biliares (canais de Hering), depois esses canais cruzam os hepatócitos mais periféricos do lóbulo e terminam nos ductos biliares (epitélio cuboide ou colunar) no espaço porta. Eles geralmente se fundem formando o ducto hepático, que deixa o fígado.

O hepatócito possui um ou dois núcleos e alguns núcleos são poliplóides. Possui abundante RER e REL. Os RER formam agregados que se dispersão no citoplasma (corpos basofílicos), onde diversas proteínas são sintetizadas. O REL é responsável pelos processos de oxidação, metilação e conjugação requeridos para a inativação ou detoxificação de várias substâncias antes de sua excreção pelo organismo. Um dos principais processos que ocorre no REL é a conjugação da bilirrubina tóxica e hidrofóbica com o glucoronato pela enzima glucoronil-transferase, para formar o glucoronato de bilirrubina, não-tóxico e solúvel em água. Este conjugado é excretado na bile pelos hepatócitos. A bilirrubina resulta da quebra da hemoglobina. Quando ela não é excretada pode ocorrer icterícia.

Várias drogas podem ser inativadas por oxidação, metilação ou conjugação (REL), tornando muitas drogas antes lipofílicas (poderiam atravessar a membrana das células intestinais) tornam-se mais hidrofílicas, gerando produtos solúveis em água, sendo exportados para o plasma ou bile por meio de proteínas transportadoras presentes na membrana dos hepatócitos. Assim, a excreção dessas substâncias ocorre no rim ou trato gastrointestinal.

O hepatócito contém glicogênio, e sua quantidade varia de acordo com um ritmo circadiano e depende do estado nutricional da pessoa. Ele é um depósito de glicose, sendo mobilizado quando a glicose sanguínea cai muito. Assim, os hepatócitos contribuem para manter a glicemia estável, sendo umas das principais fontes de energia para a utilização pelo organismo. O hepatócitos contém muitas mitocôndrias, complexo de Golgi (formação de lisossomos e secreção de proteínas plasmáticas, glicoproteínas e lipoproteínas) lisossomos, peroxissomos (oxidação de ácidos graxos em excesso, quebra de peróxido de hidrogênio, quebras de purinas em excesso, com consequente formação de ácido úrico e participação na síntese de colesterol, ácidos biliares alguns lipídeos utilizados na síntese de mielina).

Estrutura de um hepatócito

Bile: água, eletrólitos, ácidos biliares, fosfolipídeos, colesterol e bilurrubina.

Funções dos hepatócitos

O hepatócito tem funções endócrinas e exócrinas:

  • Sintetiza proteínas para sua manutenção e também para a exportação – albumina, protombina, fibrinogênio e lipoproteínas.
  • Reserva de energia: triglicerídeos e glicogênio
  • Secretam a bile para o interior dos canalículos biliares.
  • Inativação de drogas no REL: oxidação, metilação e conjugação
  • Converte aminoácidos em glicose (gliconeogênese).
  • É o principal sítio de desaminação de aminoácidos, que produz uréia, que é excretada na urina.

Metabolismo da bilirrubina

A bilirrubina é um pigmento verde-amarelado, insolúvel em água, é o produto tóxico da degradação da hemoglobina. Quando hemácias não funcionantes são destruídas por macrófagos do baço e pelas células de Kupffer do fígado, a bilirrubina é liberada no sangue se liga à albumina plasmática. Sob esta forma, denominada bilirrubina livre, ela é endocitada pelos hepatócitos. A enzima glicuronil-transferase, localizada no REL do hepatócito catalisa a conjugação da bilirrubina com o glicuronídio levando à formação do glicuronídio de bilirrubina (bilirrubina conjugada), hidrossolúvel. Uma parte do glicuronídio de bilirrubina é liberada no sangue, mas a maior parte é excretada pelos canalículos biliares e levada para o canal alimentar  e eliminada com as fezes.

Bile: água, eletrólitos, ácidos biliares, fosfolipídeos, colesterol e bilurrubina.

Regeneração Hepática

O fígado tem uma capacidade de regeneração extraordinária, apesar de possuir um ritmo lento de renovação celular. Partes de um fígado podem ser utilizadas em transplantes cirúrgicos.

Trato Biliar

A bile produzida pelos hepatócitos flui através dos canalículos biliares, dúctulos biliares (Canais de Hering) e ductos biliares. Essas estruturas se fundem, formando uma rede que converge para formar os ductos hepáticos direito e esquerdo. Estes fundem-se para formam o ducto hepático, que após receber o ducto cístico da vesícula, continua até o duodeno como ducto colédoco ou ducto biliar comum.

Ducto hepático, cístico e biliar: revestidos por uma camada mucosa com epitélio colunar simples, com a lâmina própria circundada por uma fina camada de músculo liso que se espessa próxima ao duodeno e, na porção intramural, forma o esfíncter de Oddi, que regula o fluxo de bile.

A vesícula biliar é um órgão oco, aderido à superfície inferior do fígado, cuja função é armazenar bile, concentrá-la através da absorção de água e secretá-la no trato digestório. A contração da musculatura lisa da vesícula é induzida pelo hormônio colecistoquina, que é produzida pelas células enteroendócrinas do intestino delgado, e sua secreção é estimulada pela presença de nutrientes no intestino delgado. A parede consiste em uma camada mucosa composta de epitélio colunar simples e lâmina própria, uma camada de músculo liso, uma camada de tecido conjuntivo perimuscular e uma membrana serosa.