Campus Varginha realiza Mostra Silvio Tendler de Cinema Documentário

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O evento foi promovido entre os dia 21 e 25/10/2013 

Entre os dias 21 e 25/10/2013, a UNIFAL-MG no Campus Avançado de Varginha realizou a Mostra Silvio Tendler de Cinema Documentário. Entre os mais de quarenta filmes do cineasta, foram exibidos oito filmes, entre curtas e longas metragens. Cada filme foi analisado por um professor convidado e teve como debatedor o professor Pedro Marinho da pós-graduação do curso de História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO.

Os filmes

A professora Vanessa Dias, professora de Ciências Sociais da UNIFAL-MG/Varginha, coordenadora do evento, abriu a semana debatendo o filme Jango: como, quando e porque se depõe um presidente da República. A película, lançada em 1984, aborda as relações entre diferentes agentes, agências e governos do Brasil e do exterior que articularam conjuntamente o golpe que depôs o ex-presidente João Goulart. Profa. Vanessa chamou a atenção para alguns temas tratados no filme, especialmente para o papel das associações empresariais IPES e IBAD na conspiração que resultou no golpe. Com isso, ela buscou demonstrar a inadequação do termo “regime militar” para a compreensão daquele período histórico. Ao fim, a professora provocou o público a pensar a democracia e os resquícios da ditadura no contexto atual do país, especialmente após as jornadas de junho.

A professora Aline Lourenço debateu o filme Castro Alves: retrato falado do poeta. Professora de administração pública da UNIFAL-MG/Varginha, Aline lançou três questões por meio das quais provocou o público a pensar o papel da poesia na transformação social. Uma delas contrapunha os instrumentos mais evidentes de transformação e reforma da ordem à arte e à emoção. O debate aproximou-se da realidade dos alunos que lembraram as críticas sociais feitas pelas bandas de roque ao preconceito de gênero, raça, sexo e classe.

O professor de Ciência Política da UNIFAL-MG/Alfenas Leandro Galastri, apresentou algumas questões reveladas no filme Marighella: retrato falado do guerrilheiro. Leandro enfatizou primeiramente a importância de Marighella como militante comunista que lutava por justiça social. Segundo o professor, as injustiças não são naturais, mas construções intencionais da ordem burguesa. Citando o filósofo italiano Antonio Gramsci, ele afirmou que para a manutenção do sistema econômico e político, os instrumentos ideológicos e de produção de consenso são associados à força e, portanto, à repressão de Estado, da qual Marighella foi vítima.  

O professor Gleyton Trindade, professor de Ciência Política da UNIFAL-MG/Alfenas, comentou o filme Tancredo: a travessia. O filme expõe a trajetória de Tancredo Neves, político eleito presidente do Brasil por um colégio eleitoral em 1985 e que faleceu antes de tomar posse. O professor chamou a atenção para a construção mítica dos políticos mineiros, usada como marketing pessoal em campanhas eleitorais. Tal construção, que se apoia no folclore popular, nos contos, poesias e obras literárias sobre Minas Gerais, revela-se na imagem contraditória de personagens radicais e ordeiros que teriam uma missão civilizatória sobre o território nacional. Segundo o professor Gleyton, o filme de Silvio Tendler está “contaminado” por esta lógica ao apresentar a imagem mítica de Tancredo Neves como o sujeito capaz de  levar civilização ao país.

O professor Paulo Denisar Fraga, professor de filosofia da UNIFAL-MG/Alfenas, conduziu a discussão sobre o filme Utopia e Barbárie. O professor apresentou os diferentes conceitos para o termo utopia, assim como a sua relação com os de civilização e de barbárie. No filme,  segundo o professor, a imagem do quadro Angelus Novus, de Paul Klee, revela a síntese das imagens fragmentadas da obra de Tendler. Citando Walter Benjamin, o quadro de Klee representa um anjo que parece afastar-se de algo que ele mesmo encara. O rosto dirigido ao passado, diante da cadeia de acontecimentos, enfrenta uma catástrofe única. Uma tempestade, todavia, o impele para o futuro. Essa tempestade chama-se progresso. O ponto alto do filme, segundo o professor de filosofia, é justamente colocar em cheque a ideia de progresso como um fenômeno inquestionável. A barbárie encontra-se no próprio progresso.

A professora Elisa Zwick conduziu o debate sobre o filme Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá. Elisa, que é professora de administração pública da UNIFAL-MG/Varginha, confrontou o livro de Milton Santos, Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal, com o filme, pontuando este a partir dos temas desenvolvidos no livro. A professora chamou a atenção para o conceito de globalitarismo, termo usado por Santos para definir a globalização como sistema que leva à concentração de riqueza entre os ricos e a distribuição de mais pobreza entre os mais os desfavorecidos.

O professor Wolney Malafaia, professor do Colégio Pedro II do Rio de Janeiro, doutor em história pela FGV e estudioso de história do cinema, conduziu o debate de três filmes: Jango: como, quando e porque se depõe um presidente da República e os curtas Há muitas noites na noite: poema sujo de Ferreira Gullar e Fragmentos do Exílio.

Após a exibição de Jango, Wolney chamou a atenção para o fato de que o filme não apenas conta uma parte da história do Brasil, mas ele próprio fez história. O filme foi exibido em meados dos anos 80, ainda no período de transição para o governo eleito e num momento de “afrouxamento” da censura no país. Jango inaugurou o debate de temas polêmicos, até hoje tabus para a compreensão daquele período histórico, como, por exemplo, o envolvimento do governo estadunidense nos golpes ocorridos no Cone Sul nos anos 60 e 70.   

Os dois outros filmes analisados pelo professor Wolney foram os curta-metragens Fragmentos do Exílio e Poema Sujo de Ferreira Gullar. O primeiro constitui uma carta-vídeo pelo meio da qual Silvio Tendler apresenta suas próprias memórias vividas no exílio nos anos 70. Poema Sujo, por sua vez, é um poema escrito por Gullar durante o exílio na Argentina na mesma década. Wolney relacionou os dois filmes, demonstrando que o primeiro apresenta um exílio externo, enquanto o segundo, o exílio interno de Gullar, ambos expressões de sentimentos comuns da ausência. Para o professor, os dois filmes são montados propositalmente por fragmentos. A sua intenção, como ocorre em outros filmes de Tendler, ainda que não seja apresentar neutralidade na forma como se conta uma história, é permitir que o espectador construa o seu texto de forma a alcançar compreensão própria sobre as imagens.  

Gustavo Ximenes, professor da comunicação e linguística da UNIFAL-MG/Varginha, também conduziu debate sobre o filme Há muitas noites na noite: poema sujo de Ferreira Gullar. Gustavo falou sobre a poesia de Gullar, revelando que, para o poeta, a poesia tem relação com a biografia e que os temores do período do exílio, período em que Gullar escreve o Poema sujo, motivam a busca pelas imagens e pelos sentimentos do passado, matéria-prima do poema. O professor leu alguns trechos do Poema sujo com vistas a elucidar este tema, demonstrando que em vários momentos, Gullar fala de si mesmo, de situações vividas e de sentimentos recorrentes.

Público

Os alunos compareceram em massa ao evento, sendo que a exibição dos dois curtas, cujo debate foi conduzido pelo professor Wolney Malafaia, contou com um público de 150 presentes. Em quase todos os dias, um grupo de alunos permanecia na sala de exibição, mesmo após o fim dos debates, para tirar dúvidas com os palestrantes e o debatedor. 

Também prestigiaram o evento os professores da UNIFAL-MG/Varginha Hélio Lemes, João Paulo, Fernanda Onuma, Fernanda Santinelli, Elisa Zwick, Gustavo Ximenes e Luiz Antonio Mafra.

Relatos sobre o evento

Os alunos que participaram da mostra têm enviado e-mails e publicado suas impressões sobre a mostra em redes sociais.

O aluno Leandro Coli Souza, do 4º período afirmou:

"A Mostra foi realmente produtiva e didática, no ponto de vista intelectual e da construção de visão de mundo.
Parabéns pela ótima iniciativa, Prof Vanessa e todos os colaboradores!"

A aluna Thayrine, do 2º período, escreveu:

"Gostei bastante do evento, os filmes são ferramentas excelentes de aprendizagem. Com a mostra de cinema houve maior interação entre alunos e professores. Além de se conhecer professores de outras universidades, cidades, isso é muito importante para nós alunos. A história do Brasil e os poemas são, muito mais do que são apresentados em livros, salas de aula. A nossa história é muito rica e temos que explorá-la ao máximo. Que venham os próximos eventos. Parabéns Professora Vanessa pela iniciativa de fazer algo diferente para os alunos e professores da Unifal."

Adorei, Obrigada
Thayrine Silva Reis- 2° período

Professora Vanessa Dias, que promoveu o evento, afirmou que o cineasta Silvio Tendler poderá vir a UNIFAL-MG/Varginha no próximo ano para debater o seu filme O Veneno Está na Mesa. Segundo a professora, na ocasião, os alunos estarão mais preparados para este encontro, podendo compreender através do próprio cineasta um pouco mais sobre a sua obra.

"O cinema - assim como a teoria, a poesia, a ficção e a arte em geral - é parte da formação intelectual e humanística dos sujeitos. A universidade precisa cumprir a sua vocação pública e atuar na preparação de sujeitos críticos, que não sejam meros trabalhadores adequados aos interesses do mercado.  Neste sentido, a mostra foi muito bem sucedida" – afirmou a professora. 

Informações e fotos: Vanessa Dias, professora do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas do campus Varginha da UNIFAL-MG, coordenadora do evento

 

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