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O cenário: início da década de 1970, em pleno regime militar no Brasil. Alguns romances publicados à época narram a história de protagonistas que terminam sendo internados em hospitais psiquiátricos. Este é o pano de fundo que norteou a obra “Loucura e ideologia em dois romances dos anos 1970” do professor do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) da UNIFAL-MG, Eloésio Paulo.
Intrigado com o fato dos personagens dos livros “Confissões de Ralfo” de Sérgio Sant’Anna e “Quatro-Olhos” de Renato Pompeu, terminarem internados em hospitais psiquiátricos, Prof. Eloésio supôs que não poderia tratar apenas de uma coincidência. “Minha primeira hipótese foi que isso tinha relação com a ditadura militar, pois os romances foram escritos todos no período mais violento da repressão, o início dos anos 1970”, explica.
A hipótese do professor resultou em novas leituras e reflexões sobre loucura e ideologia, temas que conduziram o seu trabalho de pós-doutorado realizado no Programa de Pós-Graduação em Literatura da Faculdade de Letras da UFMG. “Resolvi aproveitar para fazer uma revisão que remonta ao surgimento da palavra ideologia. Penso que muita gente usa a palavra ‘ideologia’ sem nenhum rigor e que ela deve estar no centro de qualquer discussão sobre a política, a educação e a cultura contemporânea”, esclarece.
De acordo a perspectiva do autor, a relação entre loucura e ideologia pode ser entendida como “oposta”. Prof. Eloésio ilustra que o contraponto entre loucura e ideologia foi uma decorrência do contraponto entre os dois romances estudos. “Fui percebendo que Quatro-Olhos se aproximava de um consenso bastante ideológico, ou seja, ignorante de seus pressupostos, enquanto Confissões de Ralfo partia de um ímpeto desestruturador do consenso, e, portanto, anti-ideológico”, comenta.
Salientando que a ideologia é um consenso social fabricado, muitas vezes de modo inconsciente, por agentes a quem interessa não aprofundar muito a crítica à maneira como as pessoas vivem e a sociedade funciona, o professor ressalta: “Isso se processa de modos diferentes em cada época e em cada sociedade, mas o resultado é sempre o mesmo: o indivíduo se desumaniza, na medida em que perde sua capacidade de, como escreveu Oswald de Andrade, ‘ver com olhos livres’”. E acrescenta: “A ideologia me parece resultar, sobretudo, do impulso de simplificar, pois o mundo e o indivíduo são muito complexos e a preguiça de pensar e sentir é muito grande, na maioria das pessoas”.
Na obra, o autor explica o conceito de ideologia e traça um panorama da ficção brasileira publicada durante o regime militar iniciado em 1964. No decorrer dos capítulos, os leitores terão a oportunidade de acompanhar o contraponto da loucura com a ideologia e como ele se expressa nas diferentes concepções narrativas dos dois romances. “Penso que o livro pode ser bem esclarecedor para quem queira entender um pouco mais a história do conceito de ideologia. Acredito também ser uma leitura agradável e que ajuda a recolocar em circulação dois romances brasileiros que andam meio esquecidos, e injustamente”, avalia o autor.
“Loucura e ideologia em dois romances dos anos 1970” está previsto para ser lançado no dia 28 de agosto, durante uma mesa-redonda que será promovida na UNIFAL-MG, com a presença dos professores Marcelo Hornos Steffens, do curso de Ciências Sociais e Rosângela Borges, do curso de Letras - docente que trabalha com uma vertente da Linguística chamada Análise do Discurso.
Na oportunidade, a convite do Prof. Eloésio, também ocorrerá o lançamento da obra do escritor João Luiz Lacerda, “Uai”, um jornal editado em Alfenas nos últimos anos da ditadura militar. “As afinidades com o meu livro vão além da simples amizade”, diz Prof. Eloésio, que revela a expectativa do evento: “O que espero que surja desse cruzamento, além das ideias que certamente virão à luz na discussão entre todos nós, é a consciência, especialmente da parte dos alunos da UNIFAL-MG preocupados com política, de que Alfenas tem uma história cultural que vale a pena resgatar, processo que só pode começar de fato se as pessoas tiverem notícia de trabalhos como esse livro do João Luiz”.
A nova obra do Prof. Eloésio poderá ser adquirida durante o lançamento na Instituição.
Sobre o autor
Natural de Areado-MG, Prof. Eloésio Paulo dos Reis é doutor em Letras pela UNICAMP e professor com mais de 20 anos de exercício do magistério nos níveis médio e superior. O docente é autor de diversos livros como: "Os 10 pecados de Paulo Coelho", "Teatro às escuras”, “Canguru”, “Primeiras palavras do mamute degelado”, “Cogumelos de mais ou menos”, “Inferno de bolso etc.”, “Jornal para eremitas” e “Homo hereticus”. Pela editora Dubolsinho, publicou em 2010, o livro de poemas “Parque de Impressões”, o qual foi selecionado como referência pelo Ministério da Educação, para compor o acervo de livros do Programa Nacional Biblioteca na Escola – PNBE. Prof. Eloésio também foi resenhista de O Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde e O Globo.