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A edição de 10/02/2014, da revista Época On-line, traz uma reportagem sobre os quatro anos de funcionamento do Sistema Unificado de Seleção - SiSU. Para repercutir o tema, a repórter Amanda Polato fez uma entrevista com a Profa. Eliza Maria Maria Rezende Dázio, responsável pela Comissão Permanente de Vestibular da UNIFAL-MG.
Confira a reportagem na íntegra:
A graduação do Sisu
Sistema completa quatro anos com crescimento significativo e novos problemas
AMANDA POLATO
O Sisu, sistema que seleciona alunos para instituições federais de ensino superior, completou quatro anos, o tempo de duração da maioria das graduações. Formam-se agora as primeiras turmas a ingressar na universidade usando a nota do Enem em substituição ao vestibular. Nesse tempo, o Sisu provocou muitas polêmicas (até na Justiça) e cresceu. Em 2010, a primeira edição registrou 793.910 inscrições; a deste ano, 2.124.416 – um aumento de 167%. O total de vagas mais que triplicou, passando de 47.913 para 171.401. Como um formando, o sistema amadureceu. Muitos dos questionamentos que existiam no seu lançamento, como a segurança e a qualidade da prova, perderam força. Hoje os desafios são outros.
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A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) está fazendo um estudo profundo sobre a evolução do Sisu. Dados preliminares indicam que a evasão aumentou no primeiro ano de graduação, segundo Jesualdo Pereira Farias, presidente da Andifes. Há cursos, como as licenciaturas, que são menos procurados, e a abertura de vagas pelo Sisu semestralmente permite que alunos troquem de curso ainda no início. “Nós precisamos trabalhar políticas que deem liberdade para que o estudante escolha o que quiser, e até mude de opção, e que aquele vazio que ficou seja suprido rapidamente”, afirma Farias. Mesmo antes do Sisu, a evasão era um problema comum às universidades. Apenas em cursos muito concorridos, como medicina, há pouca ou nenhuma sobra de vaga.
Instituições como a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) discutem ideias para reduzir a taxa de evasão, que está em torno de 30%. Uma delas é sugerir ao Ministério da Educação (MEC) que o Sisu ofereça a possibilidade de escolher apenas uma opção de curso. Atualmente são duas: se o candidato não entra na primeira opção, concorre para a segunda. “O sistema já melhorou, mas ainda sobram vagas. Os alunos desistem por diversos motivos, e este não é um problema apenas no Brasil. Mas precisamos pensar em soluções”, diz Jair Ferreira de Almeida, chefe do Departamento de Processos Seletivos da UTFPR, que aderiu ao Sisu em 2010. Jesualdo Farias diz que várias propostas, inclusive a de deixar de mostrar a nota de corte aos candidatos no período de inscrição, já estão em debate na Andifes. Ele afirma que sugestões devem ser apresentadas ao MEC ainda neste ano.
Nathália Almeida Marcelo (Foto: Acervo pessoal)
“Fiz o Ensino Médio em escola pública e grande parte dos meus colegas da UFT também. Os conhecimentos exigidos na prova são mais abrangentes e me favoreceram. Na primeira edição do Sisu, por pouco não fiquei de fora. Os candidatos podiam se inscrever em três etapas. Muitas pessoas desistiam da vaga, mas não havia lista de espera, só após a terceira etapa. Sobravam vagas e um novo ciclo de inscrições era aberto. Só depois o MEC colocou lista de espera logo na primeira etapa. Isso melhorou bastante.” Nathália Almeida Marcelo, 22 anos, mora em Palmas e estuda em Porto Nacional (TO). Forma-se no curso de letras neste ano.
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Mobilidade
Quando o Sisu surgiu, o então ministro da Educação – hoje prefeito de São Paulo –, Fernando Haddad, dizia que um dos principais benefícios do sistema seria aumentar a mobilidade de estudantes, que, antes de 2009, era muito baixa. Na primeira edição do Sisu, cerca de 8 mil calouros (17% do total) se matricularam fora de seu Estado de origem. No ano passado, foram 15 mil estudantes (13% do total). O presidente da Andifes diz que a tendência é que a mobilidade caia com a adesão de mais instituições ao Enem como substituto do vestibular. “Os jovens querem ficar perto de casa. É a prioridade até na pós-gradução”, diz Jesualdo Farias, que também é reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ele afirma que a expectativa inicial era de que a mobilidade ficasse entre 15% e 20% em todo o país. “Quando a UFC entrou no Sisu, nos criticaram dizendo que íamos entregar as vagas para todo o país, mas ocorreu um movimento contrário. Tínhamos, em média, 7,5% de estudantes de fora, e isso caiu para 5%”, afirma Pereira.
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Na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), a média de alunos de outros Estados varia entre 15% e 30%, porque ela tem campi colados a outras unidades, como Goiás. Um movimento que se intensificou com o Sisu foi a mobilidade interna: há mais estudantes mudando de cidade para se matricular em um campus da UFMT. “Os alunos de baixa renda não conseguiam pagar ônibus e hotel para prestar vestibular. Com o Enem, ele faz a prova na própria cidade e, se for aprovado na universidade, pode contar com uma bolsa para se manter. Estávamos deixando bons alunos de fora”, afirma a reitora Maria Lúcia Cavalli Neder. A instituição foi a que mais ofereceu vagas na
primeira edição do Sisu, em 2010: mais de 5 mil em 97 cursos.
Hoje uma das maiores preocupações da UFMT, segunda Maria Lúcia, é ampliar a assistência estudantil, sobretudo após a Lei das Cotas, que destina 50% das vagas a quem estudou na rede pública. “Nem sempre a condição financeira permite a permanência deles nos cursos e a universidade tem de responder a isso.”
Naiara dos Santos Oliveira (Foto: Acervo pessoal)
“Eu raramente viajava, mas queria fazer uma faculdade federal. Como em São José dos Campos (interior de São Paulo) não havia o curso que eu queria e em outros lugares do Sudeste a concorrência era muito alta, escolhi a UFMT. Passei e tive muito pouco tempo para fazer a matrícula. Isso é complicado para os estudantes de fora. Tive que correr para comprar passagem aérea, procurar algum lugar para ficar. São poucas bolsas para estudantes de baixa renda e o processo é burocrático. Tive que contar com a ajuda dos meus pais no começo, depois consegui um estágio para me manter.” Naiara Leonor dos Santos Oliveira, 22 anos, mora em Cuiabá e se forma neste ano em rádio e TV.
Concorrência
As universidades não esperavam tanta procura. Antes do Sisu, em 2009, a Universidade Federal de Alfenas (Unifal), em Minas Gerais, tinha 5.370 inscritos no processo seletivo. Ela foi uma das primeiras a aderir ao sistema e, neste ano, chegou a 25.115 candidatos. A quantidade de vagas oferecidas praticamente não mudou. “Ganhamos muita visibilidade institucional”, diz Eliza Maria Rezende Dázio, responsável pela Comissão Permanente de Vestibular da Unifal. O aumento progressivo da procura revela que a demanda por cursos superiores é muito maior do que a capacidade do país de supri-la.
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Wallace Griz Ayres (Foto: Acervo pessoal)
“A concorrência no Sisu era grande e reparei que as notas eram altas. Coloquei engenharia como primeira opção e tecnologia em sistemas de telecomunicações como segunda. Fui aprovado na segunda. Como era nessa área que eu queria trabalhar e os cursos são semelhantes, não fez tanta diferença. Gostei bastante do meu curso na UTFPR. Se muitas pessoas escolhem opções que não querem e depois não se matriculam, a culpa não é do sistema. Deve ser feito um trabalho com os candidatos. Na minha turma, muitas pessoas desistiram no primeiro ano de aulas, porque não conheciam o curso, ele não era o que esperavam.” Wallace Griz Ayres, 22 anos, mora em Curitiba e se forma neste ano em tecnologia em sistemas de telecomunicações.
Estilo de prova
Antes de o Enem se transformar em vestibular, o número de questões era bem menor e a complexidade, também. O formato mudou, mas algumas características permaneceram. A prova avalia, principalmente, competências e habilidades, e os conteúdos do Ensino Médio são explorados com contextualização.
O modelo gerou dúvidas no começo. A Universidade Federal do Tocantins aceitou oferecer apenas 25% de suas vagas no início do Sisu. Segundo Isabel Auler, vice-reitora, a decisão foi tomada também porque a participação de alunos do Estado no Enem era baixa. “Avaliando o caminhar das federais, vemos o consenso da relevância do conceito da prova Enem. Ela é um meio de acesso democrático a todos os estudantes. A UFT se sentiu segura, então, em substituir seu vestibular.”
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Isabel diz que a participação da universidade na elaboração de questões para o Banco Nacional de Itens do Enem, o acompanhamento da aplicação do exame e da correção das redações foram decisivas para o aumento da confiança da instituição na prova.
Quando o Enem substituiu o vestibular tradicional na UFMT, as escolas particulares tradicionais de Cuiabá aprovaram menos alunos. “O Enem exige que o leitor seja crítico e atento a questões do Brasil e do mundo. Isso forçou as escolas a mudar. Cursinhos mestres em saber qual é a lógica da prova. Com o Enem, não tem jeito, ele é feito por professores de todo o país”, afirma a reitora Maria Lúcia Neder.
Na Andifes, reitores falavam sobre a preocupação de que, pelo estilo da prova, os alunos não fossem ter conhecimentos das disciplinas básicas. “Isso não ocorreu. Os estudantes chegam bem preparados e têm comportamento crítico mais apurado. Eles cobram mais”, diz Jesualdo Farias.
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Antonio Guimarães Neto (Foto: Acervo pessoal)
“Achei a prova do Enem muito exaustiva, os textos eram bem grandes e exigiam muita concentração. Mas tem o lado positivo de acabar com questões que exigiam muita memorização. Para quem presta direito é bom, porque o próprio curso exige muita leitura e interpretação de textos. A prova pede essas habilidades. A seleção funcionou bem, poucas pessoas do meu curso na UFMT desistiram. Acho que as escolas vão se adaptando a esse novo modelo.” Antonio Goulart Guimarães Neto, 21 anos, mora em Cuiabá e se forma em direito em 2015.
Futuro do Sisu
A tendência é que o Sisu continue a ampliar o número de vagas e de universidades participantes, afirma o presidente da Andifes. “A entrada recente de universidades tradicionais, como a UFMG [Federal de Minas Gerais], é significativa. Nos próximos dois ou três anos, esperamos que as estaduais também adotem o sistema.”
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Segundo ele, os erros e problemas do Sisu estão sempre em debate. A nomeação do novo ministro da Educação, Henrique Paim, não deve mudar os rumos do sistema. “Ele conhece a fundo os projetos do MEC e tem bom relacionamento com os reitores.”