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Resultados de uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas da UNIFAL-MG apontaram que 35% de casos de bullying entre crianças e adolescentes, estudantes de quatro escolas da rede pública de Alfenas, estão relacionados com alterações odontológicas.
O levantamento foi feito por Ana Paula Pereira da Silveira, que acaba de concluir o mestrado em Ciências Odontológicas, defendendo a dissertação intitulada “Relação entre Bullying e alterações odontológicas em escolares do Ensino Fundamental do município de Alfenas-MG”, desenvolvida sob a orientação da docente do programa, Profa. Ana Beatriz da Silveira Moretti.
Conforme Ana Paula, o interesse pelo tema partiu de observações na Clínica de Odontopediatria da Universidade, onde os pacientes atendidos relatavam fatos de agressões por causa do uso de aparelho ortodôntico. “Um caso triste constatado foi de uma criança que usava aparelho ortodôntico removível e chegava à clínica sem o aparelho. Como não sabíamos, foi feito novo aparelho. Essa situação ocorreu outras vezes, até que fomos conversar com a mãe e esta relatou que seu filho sofria bullying na escola e que muitas vezes chegou em casa sem o aparelho porque os agressores ‘tomavam o aparelho dele e enterravam’”, relata.
Segundo a pesquisadora, mesmo solicitando providências, o retorno que a mãe obteve da escola foi a orientação de que mudasse o aluno para outra instituição de ensino. “A atitude da escola não foi adequada já que não ajudou a criança e ainda deixou os agressores impunes”, pontua a mestra, que revela sua própria experiência com bullying no período escolar. “Antes da realização de cirurgia para correção do estrabismo, fui apelidada de ‘quatro olhos’, ficando cada vez mais vulnerável às agressões que chegaram a me machucar fisicamente”, conta.
Para realizar a pesquisa, Ana Paula procurou quatro escolas públicas urbanas de Alfenas e aplicou questionários com imagens elucidativas sobre bullying e sua relação com alterações odontológicas. Participaram da pesquisa, alunos do Ensino Fundamental I e Ensino Fundamental II, com idade entre 06 e 14 anos, totalizando mais de 300 participantes. “Como existia diferença de idade entre os escolares, utilizamos duas formas de aplicação do questionário: para crianças de 06 a 09 anos foram utilizadas imagens impressas para que estas indicassem com o dedo qual resposta gostariam de assinalar, sendo que foi aplicado de forma individual; já para a idade de 10 a 14 anos, o questionário era autoaplicável sob minha supervisão”, conta.
Ana Paula esclarece que as imagens foram criadas especificamente para a pesquisa e foi de grande valor para que houvesse melhor entendimento, sendo um diferencial relevante na metodologia. Além disso, com finalidade de verificar se a criança/adolescente respondia com coerência, foram feitas fotografias extrabucais de cada um e, posteriormente, comparadas com os resultados. “Os dados obtidos foram analisados minuciosamente pelo professor de Estatística da Universidade, Denismar Nogueira”, explica.
Dentre os diversos dados relevantes apurados, foi constatado que existe relação entre bullying e alterações odontológicas, ou seja, crianças e adolescentes relatam ter sofrido agressão por causa dos dentes. “Verificamos que 29,5% dos escolares sofreram bullying de alguma forma, sendo que destes, 35% foram por alterações odontológicas”, ressalta, acrescentando que “dentes grandes” e “dentes tortos” foram as respostas mais assinaladas pelas crianças e adolescentes.
A pesquisadora salienta que o resultado é alarmante, uma vez que pode ser considerado bullying acima de três episódios de agressão, de acordo com a literatura. “É grave pensar que 1/3 dos escolares já sofreram bullying por causa dos dentes”, comenta. Apesar de afirmar que não existe o termo bullying odontológico, Ana Paula explicar que a literatura relata serem mais dolorosos casos envolvendo alterações odontológicas que aqueles relacionados ao peso, à raça e ao uso de óculos.
Apelidos e xingamentos foram formas de bullying mais frequentes descritos pelos participantes, caracterizando-se como tipo verbal e direto. “Este tipo é silencioso e, na maioria das vezes, pode passar despercebido pelos pais e professores, diferente do bullying direto e físico, como bater, chutar, empurrar ou ferir”, acrescenta. Ana Paula diz que, em sua maioria, as agressões foram praticadas por meninos.
Em relação aos sentimentos das vítimas, a pesquisadora pontua que a maioria relatou se sentir mal, mas que mesmo pedindo ajuda a adultos, não tiveram apoio por não revelarem as agressões. “Esta divergência de relatos pode ser explicada pelo fato de que as vítimas têm conhecimento de que o correto falar com algum adulto sobre as agressões, no entanto, é possível que o medo ou a vergonha os impeçam de buscar mais ajuda aos adultos, sendo mais vulneráveis às ações dos agressores”, interpreta.
A partir do resultado obtido pela pesquisa, Ana Paula, junto à professora Ana Beatriz, planeja um projeto de extensão a ser realizado por alunos de graduação nas escolas, o qual envolverá orientação aos alunos, aos pais e à equipe escolar sobre as alterações odontológicas, bem como encaminhamentos aos serviços competentes para auxiliar na resolução do problema.