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“As contribuições dos negros e das negras para a arte, cultura, saúde, ciência e tecnologia” é o tema da Semana Científica da Consciência Negra que teve início na UNIFAL-MG nesta terça-feira, 17/11, e se encerra amanhã, 20/11.
Sob a coordenação do professor Elias Evangelista Gomes, do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), o evento conseguiu envolver projetos e programas de todas as unidades acadêmicas da Universidade, caracterizando-se como um diferencial entre as semanas sobre o tema realizadas em outras instituições de ensino superior no país. “Na UNIFAL-MG, a gente conseguiu organizar a Semana da Consciência Negra em todas as unidades da Instituição, trabalhando com temáticas das contribuições dos negros e das negras para a ciência, para a tecnologia, para a saúde, para a educação, para a arte e pensar nessas contribuições, a partir das pesquisas e dos programas que a gente tem”, afirmou o coordenador durante a abertura, destacando a participação dos programas institucionais como PET e PIBID, na organização de minicursos, oficinas, exposições, mesas-redondas e outras atividades da semana.
A cerimônia de abertura, conduzida pela aluna Elizangela Arildo de Souza, do curso de Pedagogia, aconteceu na noite de terça-feira, 17, com apresentação da banda alfenense Quarteto Negro, cuja formação conta com alunos da Universidade, Marina Rosa, do curso de Ciências Biológicas e Higor Mateus, do curso de Nutrição; além dos músicos de Alfenas, Raphael Poli e Diego Barbosa.
Participaram da mesa de honra: a vice-reitora, Profa. Magali Benjamim de Araújo; a pró-reitora de Extensão, Profa. Eliane Garcia Rezende; o pró-reitor adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação, Prof. Eduardo Costa de Figueiredo; a representante do Núcleo da Consciência Negra de Alfenas, a psicóloga Maria Olímpia e a acadêmica do curso de História, Gabriela Fabiane Luiz.
A finalidade da Semana de Consciência Negra da UNIFAL-MG é promover e difundir os conhecimentos sobre a história da África, as culturas afro-brasileiras, as ações afirmativas, a educação para as relações étnico-raciais, visando contribuir para a diversificação do conhecimento científico, o reconhecimento positivo da população negra, a superação do racismo e a promoção da igualdade racial.
Dessa forma, foram programadas atividades na sede, na Unidade Educacional Santa Clara e nos campi Poços de Caldas e Varginha.
Os nomes dos espaços dos campi foram renomeados simbolicamente dando visibilidade aos escritores, cientistas, profissionais e artistas negros. O auditório Dr. João Leão de Faria recebeu o nome de “Auditório Machado de Assis”.
Um evento inovador sobre a temática
Na abertura, a estudante Gabriela compartilhou sua experiência como membro da organização da Semana da Consciência Negra na UNIFAL-MG. “A consciência sobre a questão do negro na sociedade é uma construção de todos os dias. No entanto, essa Semana, em especial, é importante, pois permite que os alunos, funcionários e visitantes tenham acesso à cultura, à debates, à informação sobre o negro na engenharia, o negro na saúde, musicalidades, enfim, aos diferentes conhecimentos e pontos de vista sobre as temáticas étnico-raciais”, ressaltou a acadêmica, que participou da elaboração da exposição “Signos da Negritude”, exposta no hall do auditório Dr. João Leão de Faria, em parceria com o Prof. Ronaldo Auad e da colega Rafaela Neves.
“Para que a exposição se efetivasse contamos com a ajuda primordial da Maria Olímpia, integrante do Núcleo da Consciência Negra de Alfenas. O contato com ela foi extremamente engrandecedor, pois pude observar o que foi ser uma mulher negra exercendo papel de liderança na sociedade na qual estou inserida. Durante as visitas à casa da Maria Olímpia, tive a oportunidade de ouvir vários exemplos de superação, tive contato com diversas pessoas que lutam pela causa do negro, tomei conhecimento sobre projetos que educam crianças, a história dos eventos de matriz africana na cidade. E tudo isso, além de contribuir para a minha formação profissional, foi mais enriquecedor para a formação do meu conhecimento enquanto negra e futura historiadora”, enfatizou.
A psicóloga Maria Olímpia do Núcleo da Consciência Negra de Alfenas, expressou sua satisfação por participar do evento e partilhou sua história de vida. “Quando eu fiz a faculdade, eu era a única negra na sala de aula. Foi quando eu consegui uma bolsa de estudo. Foi complicado, mas eu consegui. Então eu falei que depois de formada eu iria trabalhar um pouco em prol da nossa raça, orientando as pessoas, trabalhando a autoestima, falando do lugar de que nos é de direito”, contou, citando também algumas iniciativas culturais da ONG.
Representando a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG), o professor Eduardo parabenizou a Comissão Organizadora do evento, destacando as atividades da programação e os trabalhos sobre a temática que já vêm sendo realizados na Pós-Graduação. “A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação se dispõe a apoiar integralmente a todas as ações relacionadas ao tema dessa Semana, e há de se destacar também, por exemplo, que nós temos muitos grupos de pesquisa da Instituição que já trabalham o tema, em assuntos específicos, e em relação à Pós-Graduação, nós também temos alguns programas que já têm trabalhos relacionados ao assuntos”, disse, destacando o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
A pró-reitora de Extensão, Profa. Eliane agradeceu à organização pela oportunidade de discutir o tema e pelas exposições envolvendo todos os campi; salientando também, que não bastam as leis de promoção à igualdade racial, uma vez que o racismo e o preconceito de toda natureza, ainda persiste no país. “As desigualdades sociais estão atreladas às desigualdades raciais e trazem uma série de prejuízos para a população negra brasileira”, analisou.
De acordo com a pró-reitora, cabe à universidade promover e difundir conhecimentos e práticas que contribuam para conscientização e promoção das mudanças sociais que favoreçam as ações de superação do racismo para promoção da igualdade racial em todas as esferas de sua competência.
Profa. Eliane também lembrou que o evento promovido pela Instituição, é um esforço coletivo para promover a consciência negra e oportunizar à comunidade universitária, o debate sobre o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; desenvolvimento integral da pessoa humana, o respeito às diferenças seja de convicção filosófica, política ou religiosa; os preconceitos de qualquer natureza. “É, portanto, um grande evento, e inovador, talvez o maior em Minas Gerais (talvez na região sudeste) dentro de uma instituição pública de educação”, ressaltou.
Encerrando a cerimônia, a vice-reitora deu as boas-vindas, parabenizando a organização pelo evento, que segundo Profa. Magali, já se iniciava sendo um grande sucesso, dada à numerosa participação da comunidade acadêmica presente no auditório.
“Este é o evento que vem exatamente atender à cultura, à arte, à ciência, à saúde e à tecnologia. Fazendo a leitura de todas as atividades que vão acontecer durante essa semana, observa-se que realmente a organização cuidou de todos os detalhes e aqui, a Universidade está cumprindo grande parte da sua missão que é trabalhar a diversidade, acertar nas diferenças”, observou.
“Musicalidades negras: autenticidade e diáspora”
Mediados pelo Prof. Carlos Eduardo Paiva do ICHL, os palestrantes convidados, Dmitri Cerboncini Fernandes, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e Rosa Aparecida do Couto Silva, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquisa Filho” (Unesp), debateram o tema “Musicalidades negras: autenticidade e diáspora”.
Quem iniciou o debate foi a Profa. Rosa, que falou sobre o tema da sua dissertação de mestrado, na qual pesquisou a trajetória do músico nigeriano Fela Kuti, conhecido por ter produzido um estilo musical chamado Afrobeat. De acordo com a pesquisadora, o que norteou a sua pesquisa foi querer responder o que o músico tinha de essencialmente africano.
O professor Dmitri falou sobre “Samba, Movimentos Sociais e Artistas – Intelectuais Negros”, tema que ele vem desenvolvendo desde 2011, cujo resultado deve ser publicado em livro em 2016, com o nome “A Cor do Samba”. Segundo o palestrante, o samba é valorizado por possuir origem negra, mas que na história nem sempre foi assim, pois essa concepção que temos hoje, emergiu em meio a uma confluência de outros fatores, como os movimentos negros que passaram a eclodir no mundo a partir das décadas de 1950, 1960 e 1970.